quinta-feira, 21 de novembro de 2013
O CRISTIANISMO E AS NOVELAS
O Cristianismo e as novelas: Por que elas o marginalizam tanto?
23/09/2013 - Arthur Vivaqua
De acordo com dados oficiais do último Censo, 87% da população brasileira é cristã. O IBGE não perguntou, mas, caso o fizesse, descobriria que há mais cristãos do que amantes do futebol (odiado pela maioria das mulheres), do samba (muitos, apesar do Carnaval, não o curtem) e da cerveja (milhões de pessoas não bebem).
Isso equivale a dizer que há mais unanimidade no que diz respeito a Jesus Cristo do que em relação a consagrados clichês da ‘cultura nacional’. Ainda assim, a TV concede muito mais espaço a eles do que a Ele.
A teledramaturgia nacional marginaliza o Cristianismo, limitando-o a cenas de casamentos e funerais. Por outro lado, religiões como Islamismo, Hinduísmo e Budismo são temas centrais de novelas de sucesso. Não que isso represente um problema (pelo contrário!), mas o que causa espanto é saber que estas religiões são, de acordo com o mesmo IBGE, seguidas por menos de 1% da população nacional.
Por que tanto destaque ao mínimo e desprezo pelo máximo?
A reencarnação, os provérbios hindus, as mesquitas e as montanhas do Tibete inegavelmente exalam cultura e são repletos de belos ensinamentos, mas nossos autores parecem ter se esquecido de que o cristianismo também possui vasta bagagem cultural, artística e espiritual.
Além do clássico jargão de que “não valorizamos o que é nosso”, a insipidez do cristianismo nas novelas possui uma face mais sombria: enquanto os verdadeiros cristãos são ignorados, os falsos possuem amplo espaço, rendendo audiência e diversão.
Um monge budista surge em “Joia Rara” como sábio e incorruptível. Padres, no entanto, constantemente são retratados de forma jocosa ou, quando menos, distante. No tocante aos pastores evangélicos, o cenário também é desolador e os ilustres casos de “lobos” parecem ter sufocado a enorme existência de “cordeiros”.
A superficialidade da fé cristã retratada em novelas também impressiona. Em todo folhetim que se preze, um casamento na Igreja Católica é realizado, mas nenhum dos personagens demonstra amor ou fidelidade à Igreja ao longo da trama.
Outra contradição também é comum. Em novelas como “Alma Gêmea” (2005) e “Amor Eterno Amor” (2012), ambas de temática espírita, os personagens entram em contato com espíritos, recebem mensagens, revelações e têm sua vida transformada através de sua fé. São personagens que vivem o que pregam e, de uma forma linda, têm suas histórias reescritas pelas crenças que professam.
Por que católicos e evangélicos nunca são retratados assim? Por que eles constantemente aparecem rezando, mas não recebendo milagres? Por que a fé dos personagens cristãos parece lhes servir como muleta e não como bússola?
A questão nos leva novamente ao fetiche pelos maus e o consequente desprezo pelos bons. Existem evangélicos hipócritas? Muitos! Existem católicos que nem sabem o que é uma missa? Diversos! Existem maus pastores e maus padres? Uma penca!
Não se pode, porém, permitir que a existência dos maus sobrepuja a atuação dos bons. Existem também muitas pessoas maravilhosas, cuja fé guia seu viver de forma sincera e real, tal qual os monges de “Joia Rara”, exemplo mais atual de uma abordagem reverente.
O Brasil é repleto de cristãos que veem Jesus não apenas num quadro ou crucifixo, mas em cada situação de seu dia-a-dia. Pessoas que não apenas vão à Igreja, mas são a Igreja! Católicos e evangélicos que se esmeram em se parecer mais com Jesus e possuem lindas histórias para contar.
São esses cristãos – e não os da estirpe de Carminha e Doroteia – que merecem mais espaço. Eles já estão entre os 87%. Agora, resta-lhes chegar ao horário nobre.
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A esta altura alguns podem estar dizendo: “Novela não existe pra falar de Deus, mas para entreter!”. Concordo, mas acrescento um tópico à discussão: a fé não poderia ser retratada de forma viva, tocante e até mesmo divertida?
Não é necessário a existência de uma novela cujos protagonistas usem saias longas e andem com a Bíblia na mão. Esta seria apenas uma nova forma de ofensa. Uma abordagem inovadora seria aquela que expandisse a fé cristã, e não a diminuísse a dogmas, costumes ou doutrinas.
Não seria bonito ver uma mocinha cheia de fé diante das dificuldades? Uma mocinha que não apenas cresse em Deus, mas O servisse?
E quanto a um vilão que, ao fim da trama, não fosse para o hospício, mas para a Igreja, seja ela qual for?
E que tal um casal de jovens que optasse pela virgindade até o último capítulo?
Estes cenários podem parecer bizarros aos olhos dos que não creem, mas são comuns a milhões de brasileiros. Não é preciso ir ao Nepal para falar de fé. Ela está ao nosso lado.
“Nada estará perdido enquanto estivermos em busca”, escreveu o católico Agostinho. “O problema não é que Deus não fale; nós é que não O ouvimos”, disse o evangélico Max Lucado.
Eu, pessoalmente, concordo com ambos e gostaria de ver Jesus ser retratado com a mesma reverência dada a Allan Kardec, Buda, Gandhi e Maomé.
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Arthur Vivaqua não é escritor, mas escreve. Não é jornalista, mas forma opinião. Não é uma máquina, por isso pensa.
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